
A maior onda já surfada na laje do Gardenal
O fotógrafo Andre Lima relata como foi a sessão desde sua chegada até as maiores ondas já dropadas
Publicada em: 18/10/2016 13:40:33
No dia 26 de setembro, vários surfistas e cinegrafistas foram conferir as ondas da Laje do Gardenal na Barra. As condições estavam propícias para o local, o que gerou ondas gigantescas a 2,5 km da praia, no meio do mar. O resultado foi a maior onda já surfada e registrada na laje, dropada pelo Alemão de Maresias, e documentada em vídeo pelo cinegrafista Marcelo Mattos.
Em pouco tempo o vídeo da onda já tinha se tornado viral após o post no Facebook da WSL (https://www.facebook.com/WSL) e outros portais que compartilharam atingindo cerca de 1 milhão de pessoas. Após uma semana desse swell, fomos conversar com parte da equipe que esteve lá para conferir tudo que rolou naquele dia, além dos caldos e arranhões.
Abaixo, o relato de Andre Lima.
"Eu, Alemão de Maresias e Kalani chegamos no Gardenal por volta das 7h30am, onde encontramos três equipes. Num jetski estavam o Caio Vaz, seu irmão Ian e Paulo Avelino. Em outro, Paulo Curi e Pedro Calado, no terceiro estava Victor Gioranelli e o cinegrafista Marcelo Mattos. Na água estavam Fabiano Passos, Pedro Fortes e Phil Rajaman.
Na hora que chegamos nem deu tempo de perguntar sobre as condições do mar. Quando olhamos para a Laje, vimos um paredão de água de uns 8 pés se projetando em direção a enorme pedra de pelo menos 60m de extensão. A cena parecia em câmera lenta, pois os corações de todos estavam batendo bem mais rápido que a velocidade da onda vindo... Quando entendi a cena, não sei o que me impressionou mais: a sensacional monstruosidade da onda ou o Phil Rajzman sentado tranquilamente no limite dela, como se estivesse no camarote de um mega evento. De onde eu estava, tive a certeza de que ele seria arremessado longe, igual a um mamão na pedra. Naquele momento, ficou claro que era uma expedição de cascas grossas, e não para curiosos.
Depois de algumas séries observadas e entendidas, houve um plano de ataque sobre como as ondas seriam surfadas. Pedro Calado e Kalani, puxados pelo Alemão e Paulo Curi, além do Phil com seu longboard na remada, abriram o salão, e começaram a se jogar pra baixo, tentando desde o início ficar o mais deep possível dentro dos tubos. Foi impressionante demais! Nesse momento a adrenalina de todos subiu de vez. Eram gritos de euforia e alívio, a cada onda surfada em segurança.
Apesar de uma luz difusa, ruim para captar imagens, já dava pra ver o sorriso no rosto de todos nós com câmeras, (Marcelo Mattos, eu, Pedro Fortes e Paulo avelino). Rolava a sensação de que aquela manhã seria histórica e faríamos altas imagens. Tentamos ficar um tempo na água, mas a correnteza estava muito forte e dificultava o bom posicionamento com segurança, diante desse problema, voltamos aos jets, que também não eram completamente seguros. Em um momento, eu e o Marcelo fomos jogados na água por conta de uma onda que veio um pouco acima das nossas expectativas.
Depois de boas ondas surfadas no início da sessão, a confiança já era sentida no ar, transparente e intensa como as ondas. Cada onda era surfada com o máximo da concentração, coragem e confiança. Todos estavam ali buscando seus próprios limites. Caio Vaz, Fabiano e Victor logo entraram no desafio, e se jogaram também.
Ali, meu sorriso já era incontrolável, só alternando com momentos que achei que seria engolido pela onda, até ser lambido pela pedra. Mas ok, foca e clica. Afinal, eu estava fotografando alguns dos melhores do mundo, numa Laje desafiante como as mais sinistras que existem.
Claro que o preço não foi barato para alguns, principalmente para os primeiros a se jogarem. Depois de muitas ondas boas, Pedro Calado e Kalani foram arremessados sobre as pedras, onde tiveram ferimentos superficiais, mas nada leves. Sangue, inflamações e dores são preços que até os mais casca-grossas pagam por tanta disposição.
Quando achei que já tinha altas fotos e estava com a cabeça feita, veio o presente da manhã. Depois de colocar todos com perfeição em algumas das melhores ondas, o Alemão de Maresias foi matar a vontade e surfar também. Quase que por destino, nesse momento, um buraco enorme se abriu nas nuvens, entrando potentes raios de sol iluminando e dando uma áurea mágica às cenas que viriam a seguir.
Depois de passar a noite mentalizando tudo em detalhes, segundo o próprio me disse, Alemão foi para as ondas, puxado com muita precisão pelo Paulo Curi. Foi ali que eu vi algumas das cenas mais sensacionais da vida. Depois de 3 ondas, com direito a ser baforado pra fora de um tubo grande, oco e barulhento, veio a "big mama", como diriam em Nazaré, ou a Rainha do dia, como disse Marcelo Trekinho nos comentários no Instagram.
Era uma bomba de quase 4 metros, verde, cintilante, linda e que lembrava muito a lendária quebra-ossos Teahoopo, no Taiti. E nela vinha o Alemão, colocando a prancha no trilho, com muito estilo e consciência, enquanto a onda não parava de subir, demorando horas para mostrar o seu limite, no lip. Antes dela chegar ao ápice, eu já tinha certeza de que era a maior onda do dia. Restava apenas torcer pro Alemão fazer o que ele sabe melhor: surfar uma bomba, e presentear a todos com uma imagem que vai demorar a sair das nossas cabeças.
Ela foi a maior, mais perfeita, colorida e linda onda do dia, sem dúvidas. E como todos esperavam, não houve desapontamentos, pois o Alemão mostrou porque é uma referência nacional em ondas gigantes, surfando com a sabedoria e calma de quem sabe exatamente o que está fazendo, mesmo que fosse sua primeira vez surfando no Gardenal. Resultado: foi a maior onda da história surfada lá! Pensei: parabéns, troféu Gardenal pra você, meu amigo!
Depois ainda rolaram boas ondas, finalizando a sessão histórica com o Alemão puxando o Phil, numa demonstração de puro dom e muita frieza para surfar aquelas ondas com um longboard.
Foi um dia para nunca mais esquecer, e ser muito falado ainda, pois com certeza, foram dados passos importantes na história do surf na Laje do Gardenal".
Publicada em: 18/10/2016 13:40:33