Entrevista com Tom Veiga
Sua arte é a união de duas paixões: o designer e as ondas
Publicada em: 21/03/2016 17:49:16
Ele já enviou trabalhos para mais de 40 países, fez exposições pelo Brasil, Argentina, USA, França, Espanha, Japão e assinou vários projetos com marcas legais pelo mundo. Conheça o trabalho de TOM VEIGA em entrevista para o SurfConnect.
Você afirma que suas maiores inspirações são a paixão por ondas e a sua profissão como designer. Você surfa ou já surfou?
Isso é algo engraçado, pois hoje sou inserido no mundo do surf, moro em um lugar que tem ondas de todos os lados (Tom mora em Garopaba), faço parte da cultura surf, participo de eventos, faço projetos ligados ao surf mas não surfo. Tenho um problema no joelho dos tempos de adolescente quando jogava futebol e não posso fazer movimentos muitos bruscos. Preciso operar meu joelho para começar a surfar.
Mas isso não impede de estar conectado às ondas, pois quando estou criando uma arte é como se estivesse surfando. Me sinto deslizando pelas ondas enquanto as crio. É uma sensação boa e espero em breve estar em cima de uma onda real, mas primeiro preciso arrumar meu joelho.
Seu estilo é único e muito característico. Desde o início você já tinha esse estilo de arte ou foi desenvolvendo a técnica com o passar do tempo?
Meu estilo nasceu naturalmente, nunca procurei ter um. Procurava apenas expressar minha paixão pelo surf sem me preocupar com estilo ou com visão pessoal das ondas. Queria fazer algo mais realista e não conseguia. Não tava fluindo fazer algo realista, não sentia alegria em criar elas assim.
Com o tempo passei a fazer algo mais ligado ao design e isso era mais animador pois ao invés de copiar uma foto ou lugar eu teria que interpretar, analisar, estudar antes de fazer, fui fazendo assim e evoluindo até que quando me dei conta, tinha nascido um estilo meu de criar as ondas. Uma forma pessoal de traduzir o que via através das curvas e cores. Assim fui desenvolvendo, criando e me aperfeiçoando até os dias de hoje.
Então ela foi uma evolução não planejada, nascendo de forma natural, a cada nova arte que fazia ela se aperfeiçoava até chegar um momento que me sentia feliz e seguro em criar a minha visão das ondas.
Seu trabalho “busca interpretar ao máximo as características únicas de cada onda usando o mínimo de traços possível”. Qual foi a onda mais difícil de criar levando em consideração as características dela e do local onde está?
Toda a onda que crio tem sua particularidade, tem seu grau de dificuldade, pois não procuro recriar algo mais próximo do real, e sim, uma versão lúdica, uma visão minha. Então toda onda precisa ter um estudo e uma interpretação pessoal. Isso muitas vezes demora muito, pois não é apenas copiar uma foto ou lugar e sim interpretar uma visão, fazer uma tradução minha.
Então não consigo ver uma em especial pois todas me vêm a mente com suas dificuldades por terem características próprias. Algumas têm mais o que facilita a interpretação. Outras têm poucas características marcantes e isso acaba demandando mais tempo de pesquisa para encontrar o ponto chave dela. Então todas as artes para mim têm um mesmo valor, mas o resultado final sempre me anima muito.
Pra você qual é a onda mais bonita do mundo ? Ela também é a mais perfeita em suas artes?
Para mim a onda mais bonita é a de Pipeline. Não só pela beleza, mas por tudo o que ela representa para a surf cultura. Onda linda, clássica, perfeita, inspiradora... Para mim, Deus caprichou nela pois toda vez que a vejo me desperta uma nova ideia para recriá-la. As ondas em geral do Hawaii são lindas, mas Pipeline é perfeita.
Você tem seu trabalho reconhecido em vários países, seja em exposições, quanto em parcerias no desenvolvimento de produtos de grandes marcas como Billabong, Reef, Globe e Mormaii e até em posters de campeonatos.
No Brasil, é possível viver de arte ? Quais as maiores dificuldades?
Sim, é possível viver da arte, mas eu passei por anos fazendo as artes nas horas de folga até tomar a decisão de sair do meu emprego e me dedicar a arte.
Temos que trabalhar muito, se dedicar muito, viajar muito, ralar mesmo para poder ter frutos do trabalho com arte. Eu trabalho muito mais hoje do que trabalhava quando era funcionário de agência, pois hoje eu preciso produzir para mim mesmo, sempre preciso evoluir, tentar coisas novas, fazer novas exposições, criar novas artes. Os projetos são ótimos, dão visibilidade e eu já pude realizar muitos sonhos através da minha arte. Pude viajar para algumas partes do mundo com elas, mas tem outras partes que ainda quero conhecer, novas marcas para trabalhar em conjunto, novas ondas para desenhar... não podemos parar, temos que continuar. Se tem um sonho precisa correr atrás.
Qual é, na sua opinião, a melhor onda que já criou ? E qual ainda quer criar?
Eu gosto de todas as artes que trabalho, pois todas têm um significado especial para mim. Se fiz, foi porque estava inspirado em fazer. Mas a que mais gosto é a Pipeline, pois foi a primeira que realmente refletia a essência do meu trabalho. Tanto que ela foi usada várias vezes em capas de matérias sobre meu trabalho. Ainda quero criar muitas ondas pelo mundo, uma delas é Teahupoo. Ainda não senti a vibe certa para criar essa onda. Já tentei algumas vezes mas ainda não fluiu. Preciso esperar o momento certo para criar essa onda de uma forma que me transmita alegria.
Que mensagem você deixa pra quem ama o surf e pra quem ama a arte?
Tanto o Surf como a Arte são expressões de paixões. Surfistas amam as ondas e surfam elas como forma de expressar essa ligação. Artistas amam a arte e usam isso para expressar suas paixões. No meu caso amo a arte e sou apaixonado pelo surf e uso das minhas ferramentas para expressar minha paixão por ondas através da arte.
Confira mais sobre Tom Veiga no site http://www.seriewaves.com/ e siga sua conta no Instagram http://instagram.com/tomveiga
Publicada em: 21/03/2016 17:49:16